A Geração Z apanha porque pergunta. Questiona metas, jornadas, chefias — e isso vira “insubordinação”. Eu vejo outra coisa: o que vendem como defeito é sua melhor contribuição. Ao recolocar o “por quê?” e o “para quê?” no centro, essa turma lembra que autoridade precisa de justificativa. É bom para empresas, governo e sociedade.
O efeito aparece em três frentes. 1) Limites: o que chamam de “quiet quitting” muitas vezes é só separar trabalho e vida. 2) Coerência: cobra-se alinhamento entre discurso e prática — ESG real, diversidade que sai do post e entra no organograma. 3) Transparência: luz sobre salários, promoções, critérios. Ambientes que suportam perguntas erram menos e corrigem mais rápido.
A lealdade muda de endereço: não é obediência cega, é compromisso com propósito. Gente não é recurso, é fim. Sim, há excessos e caricaturas. Mas o essencial é que a Gen Z atualiza a crítica para a era digital: questiona algoritmos opacos, defende privacidade, exige inclusão em times que desenham o que usamos todos os dias.
No Brasil, isso tem valor extra. Num país desigual, perguntar “quem fica de fora?” move a agulha. Quando um estagiário nota a ausência de mulheres negras na liderança, não “milita”; pratica gestão de risco reputacional e justiça básica. Quando alguém recusa mensagem às 23h pedindo “alinhamento 8h”, não sabota a entrega; lembra que produtividade não é sacrifício.
O que fazer? Organizações que entenderem a oportunidade vão trocar o “porque sim” por processos explicáveis, feedbacks de mão dupla, métricas de bem-estar junto com desempenho, jornadas flexíveis e metas claras. E os jovens? Transformar indignação em propostas testáveis, negociar, reconhecer limites. Questionar é o começo; construir é o passo seguinte.
A melhor heresia da Gen Z é não normalizar o absurdo. Se isso exigir conviver com perguntas incômodas, que seja. É caro. Mais caro ainda é seguir sem perguntar nada.